sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

 


Uma nova ameaça à saúde pública

no Brasil e nu Mundo 



De acordo com pesquisadores da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), o aumento do consumo de drogas sintéticas tem sido um novo problema de saúde pública no Brasil e no exterior. Essa classe de drogas é composta por substâncias desenvolvidas a partir de alterações na estrutura molecular de substâncias previamente conhecidas e já proibidas, com o objetivo de burlar a lei, de modo que a sua comercialização possa ocorrer sem prescrições ou restrições legais. À luz da lei, essas substâncias ainda não são proscritas (proibidas), porém, sob o ponto de vista toxicológico, apresentam propriedades nocivas cujo impacto do consumo vem sendo estudado em vários países. O consenso é que estamos diante de substâncias neurotóxicas, com alto poder de dependência e capazes de causar importantes danos à saúde física e psicossocial dos seus usuários.


Foto: Divulgação / Polícia Civil



Produtos cada vez mais potentes burlam a vigilância

Infelizmente, a indústria da droga está à frente na criação de derivados de produtos já proibidos. No Brasil, desde 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que fiscaliza setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira, realizou 37 atualizações na Portaria 344/1998 (que trata dos medicamentos de controle especial), sendo a última em 2014, a partir da lista de 2012.

Muitos países vêm tentando manter suas listas de drogas proscritas atualizadas, mas o aparecimento de novas substâncias psicoativas, conhecidas como New Psychoactive Substances (NPS), tem sido mais rápido que os processos burocráticos de inclusão. Como consequência, uma grande quantidade de novas substâncias psicoativas sintetizadas não regulamentadas é mundialmente comercializada, inclusive por meio da internet. Na Europa elas são conhecidas como "legal highs" ou "smart drugs". Estudos mostram que tais substâncias estão se tornando facilmente disponíveis também fora do eixo Europa-América do Norte.

De acordo com o efeito dessas substâncias no sistema nervoso central (SNC), elas podem ser classificadas em três categorias: psicoestimulantes, canabinóides e alucinógenos.

As ATS (amphetamine-type stimulants ou estimulantes do tipo anfetamina) são compostos sintéticos estimulantes que compreendem o grupo das anfetaminas, metanfetaminas, metacatinonas e substâncias análogas ao ecstasy (MDMA). Após os efeitos agudos do consumo, os usuários podem apresentar alterações de comportamento que evidenciem a dependência da substância. É relatado o aumento do risco de suicídio causado pela depressão nos períodos de abstinência e, vale acrescentar aqui, 87% dos usuários de estimulantes apresentam sinais de abstinência com a cessação do uso.

Diversos análogos sintéticos ao Δ9-THC (Δ-9-tetrahidrocanabinol) foram desenvolvidos. Do ponto de vista toxicológico, essas novas substâncias podem ser até 100 vezes mais potentes. Os canabinóides sintéticos são comercializados misturados a ervas em produtos chamados de K2, Spice ou incensos herbais. Alguns nomes comerciais do Spice incluem: Spice Silver, Spice Gold, Spice Diamond, Spice Arctic Synergy, Spice Tropical Synergy, Spice Egypt, Zombie World, Bad to the Bone, Black Mamba, Blaze, Fire and Ice, Dark Night, Earthquake, Berry Blend, The Moon e G-Force 2,3.

Ignorando o potencial tóxico desses compostos e a restrição nos rótulos indicando “impróprio para consumo humano”, na busca pelos efeitos semelhantes aos obtidos com o uso de maconha, os usuários consomem esta droga colocando em risco sua integridade física e mental. Constatou-se que após o uso, um em cada 30 usuários buscou serviços de atendimento médico de emergência no último ano. A Cannabis sintética é a substância que mais tem levado os usuários a buscarem esses serviços. As consequências do uso envolvem aumento de risco para o desenvolvimento de quadros psicóticos e chances 60 vezes maiores para instalação da síndrome de dependência.

Entre outros, os efeitos clínicos adversos relatados com o uso de Spice ou K2 estão relacionados a alterações no SNC, tais como convulsões, agitação, surtos psicóticos, acidentes vasculares cerebrais (AVC), perda de consciência, ansiedade, confusão e paranoia ou no sistema cardiovascular (taquicardia, hipertensão, dor no peito e isquemia cardíaca).

Os canabinóides sintéticos disponíveis atualmente no mercado ficaram mais potentes que os naturais, implicando em maiores prejuízos à saúde física e mental dos usuários. O uso desses derivados sintéticos da maconha foi relatado por 1,7% da amostra brasileira no último ano, ficando atrás apenas da Polônia, Hungria e Nova Zelândia, onde a Cannabis sintética era legalizada até a data da coleta dos dados.

Nos EUA, relatos de aumento do uso dos serviços de emergência, suicídio e assassinato já foram noticiados em razão do uso de Cannabis sintética e as autoridades continuam a alertar a população para o risco de novas ocorrências. Iniciativas de alerta e prevenção foram implementadas e a venda da droga passou a ser criminalizada em diversos Estados americanos.

Até pouco tempo atrás, o composto alucinógeno sintético mais conhecido era o LSD, porém, a busca por uma substância com preço mais barato e sem restrições legais que reproduzisse seus efeitos, introduziu uma nova série de drogas alucinógenas que ganhou destaque. Uma nova substância, o NBOMe, que apresenta um mecanismo de ação muito similar ao do LSD, surgiu na Alemanha em 2003, mas atualmente já se apresenta com 11 variações. Comercializado em muitos países como se fosse LSD, o NBOMe é mais forte e tóxico que a dietilamida do ácido lisérgico. A concentração do princípio ativo encontrado em doses de NBOMe pode ser até 40 vezes mais alta que no LSD, dependendo da forma como é consumido.

Os efeitos da droga no organismo podem durar até 12 horas, quase o dobro da duração média do ácido lisérgico. Ela começou a ser consumida no exterior em 2010 e chegou ao Brasil em 2011. Desde 2012, a comunicação do número de mortes e a busca de serviços de emergência após o uso está em ascensão. 


Fotografia que mostra vários saquinhos com comprimidos de ecstasy e uma mão que segura alguns comprimidos

Entre 2013 e 2015, triplicou o número de usuários de ecstasy que buscaram atendimento médico de emergência no país

Dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad), realizado no Brasil em 2012, e do The Global Drug Survey 2015 Findings, que apresenta dados mundiais relativos ao consumo de drogas no ano de 2015, incluindo uma amostra brasileira, apontam que o consumo de ATS entre as mulheres foi maior que em anos anteriores, tanto quanto ao uso na vida como quanto ao uso no último ano. O uso de ATS pelo menos uma vez na vida foi referida por 4,1% da amostra, sendo 4,6% entre as mulheres e 3,8% entre os homens. As prevalências mais altas foram observadas entre os indivíduos de 25 a 34 anos (6,6%), solteiros (4,9%), com níveis mais elevados de educação (7,4%) e maior renda (13,6%). O uso da substância no ano anterior ao da realização da pesquisa foi referido por 1,6% da amostra, verificando-se que o consumo entre as mulheres (2,2%) alcançou o dobro do consumo entre os homens (1,1%). Observa-se mudança de faixa etária, sendo os mais jovens, aqueles entre 15 e 24 anos, os maiores consumidores (2,2%).

Com relação ao uso associado a outras substâncias, usar estimulantes aumenta em sete vezes e meia a chance de um indivíduo usar maconha e outras drogas ilícitas, e em vinte e uma vezes a chance do uso de cocaína.

A prevalência de consumo de inibidores de apetite a base de anfetaminas no Brasil, considerando o uso na vida, é a mais alta entre todos os países pesquisados, sendo 4,1% entre os homens e 6,4% entre as mulheres. Estes dados reforçam a urgência de atenção para o uso de estimulantes entre mulheres na nossa população. 

Infográfico - Fatores associados ao consumo de estimulantes do tipo das anfetaminas (ATS). A chance de um usuário de ATS ( amphetamine-type stimulants ou estimulantes do tipo anfetamina) se envolver em episódios de violência urbana é duas vezes maior quando comparado ao usuário de cocaína e quase seis vezes maior quando comparado a um indivíduo que não consome nenhuma das duas substâncias.  (OR= Odds Ratio, razão de chances). / Ser mulher or: 2x mais chances. / 5 salários ou mais  or: 7,5x mais chances. / Consumo de outras drogas ilícitas or: até 21x mais chances. / Educação  Fator protetor. / Violência urbana: ATS X Cocaína. / ATS: or: 3,5x mais chances. / COCAÍNA: or: 5,6x mais chances

Em 2015, 12,2% dos pesquisados relataram o uso de ecstasy (MDMA). Entre 2013 e 2015, triplicou o número de usuários de ecstasy que buscaram atendimento médico de emergência. Há que se considerar não só os casos de overdose, situações onde há a ingestão de grande quantidade de substância de uma só vez, mas também, a mistura de adulterantes altamente tóxicos, pois mesmo o consumo de pequenas quantidades pode levar o indivíduo ao atendimento médico de emergência. Como consequência desta experiência, 55,6% dos usuários reduziram o uso da substância e 22,2% diminuíram o consumo concomitante de álcool. 

As intervenções de redução de danos partem de um conjunto de políticas, programas e práticas baseadas em evidências científicas, que tem por objetivo diminuir o impacto do uso de drogas lícitas e ilícitas, salvaguardando a saúde física, social e econômica dos usuários, de suas famílias e da comunidade. 

Com relação às drogas sintéticas, uma estrutura conhecida como “legal party pills” passou a ser usada em alguns países como uma alternativa segura para o consumo. A estratégia consiste em limitar o uso a determinados ambientes, principalmente festas e eventos ligados à música eletrônica, pontos onde o usuário tem a possibilidade de testar a substância antes de consumi-la, evitando, assim, a ingestão de adulterantes desconhecidos potencialmente perigosos, e até mesmo fatais, encontrados nas drogas de rua. O teste é rapidamente realizado por meio de reações químicas, utilizando uma pequena quantidade da substância que vai ser consumida e alguns produtos reagentes. Atualmente, os kits de testagem podem ser adquiridos pela internet e usados em casa.



Fonte: https://www.unifesp.br/

quinta-feira, 7 de outubro de 2021



 Nova droga feita com catalisadores de carros preocupa autoridades do Congo

  

 

 Apenas no mês de agosto, a polícia prendeu 100 supostos traficantes que estavam em posse de “bombe”, o nome dado a droga, que significa "poderosa" em lingala, um dialeto local. 

 

A capital da República Democrática do Congo lida com uma situação incomum envolvendo carros e drogas. Uma nova mania tomou conta de uma das principais cidades do país, Kinshasa, e preocupa as autoridades locais. A novidade entre a população é uma droga derivada de catalisadores automotivos.


O fenômeno atraiu atenção até do presidente do país, Felix Tshisekedi, que afirmou que a situação “exige responsabilidade coletiva de toda a nação”. Cedrick, um jovem de 26, conta mais detalhes sobre a droga que preocupa as autoridades congolesas. 

“Nós costumávamos beber uísques muito fortes, éramos inquietos e machucávamos as pessoas. Mas o bombe te acalma, te cansa, você fica em algum lugar, seja de pé ou sentado, por muito tempo. Quando você termina, você vai para a casa sem incomodar ninguém”, explica o jovem de 26 anos à Reuters

Especialistas em entorpecentes apresentam um outro lado. A droga, composta por um pó marrom e alguns comprimidos amassados, é perigosa. Esse pó marrom é obtido pela trituração do núcleo cerâmico em formato de colmeia dos catalisadores dos carros. 

Os mecânicos da cidade afirmam que a busca maior pelo entorpecente está relacionada ao aumento de roubos de catalisadores, em busca de revender elementos valiosos usados nas peças, tais como platina, ródio e paládio. Um mecânico afirmou que entre 5 e 10 clientes o procuram todos os dias porque o catalisador de seus respectivos veículos sumiu, provavelmente roubado pelos traficantes. 

O diretor nacional da Federação Mundial contra as Drogas, Dandy Yela Y'Olemba, demonstrou estar preocupado com a situação. “Não é uma substância feita para consumirmos”, advertiu. Ele explica que os metais podem causar câncer e questionou: “somos motores ou humanos?”.

Os usuários trituram o objeto em formato de colmeia e misturam com comprimidos de vitaminas ou até sedativos. Em alguns casos, eles misturam o pó marrom com tabaco para fumar. Ainda não há qualquer informação dos efeitos a longo prazo do uso da droga.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

 


Dependência química: tipos, sintomas e melhores tratamentos.


 

Vamos conversar sobre dependência química?

 

Esse é um assunto cercado de mitos, preconceito e desinformação, além de, muitas vezes, não ser levado a sério como deveria.

 

Só para se ter uma ideia do quanto o tema é complexo, no mundo, 35 milhões de pessoas sofrem com algum tipo de transtorno causado pelo uso de drogas.

 

Mas o dado ainda mais alarmante é que apenas um em cada sete adictos realiza tratamento.

 

O levantamento completo pode ser acessado no Relatório Mundial sobre Drogas e Crimes 2019 e nos leva a uma série de reflexões que procuro trazer neste texto.

 

Minha ideia é que, por meio deste conteúdo, possamos abordar a dependência química com toda a seriedade e complexidade que ela merece.

 

Aproveite para tirar suas dúvidas e também deixar para trás alguns pensamentos ultrapassados que, eventualmente, ainda façam parte do seu imaginário.

 

E se você se pergunta como pode ajudar um dependente químico, também terá essa resposta a partir de agora.

Siga acompanhando!

 

O que é dependência química?

 

Dependência química é um problema crônico, que se caracteriza pela mudança no comportamento do indivíduo ao administrar determinada substância. Como consequência, ele passa a se ver dominado por impulsos, cada vez mais recorrentes, para voltar a fazer uso da droga.

 

Adotando uma linguagem mais técnica, o quadro nada mais é do que um padrão mal adaptado do consumo de substâncias, gerando significativos prejuízos clínicos e de ordem emocional. 

 

Nesse caso, os entorpecentes passam a ser um refúgio do adicto na busca por sensações de bem-estar e, consequentemente, alívio de sentimentos ruins, como ansiedade e medo.

 

Dependência química é doença?

 

Sim, a dependência química é uma doença de característica crônica.

 

Diversos fatores ajudam a definir esse quadro como uma patologia, mas destaco dois principais: tolerância e abstinência.

·    Tolerância: necessidade de ingerir doses cada vez maiores para que a droga desperte os efeitos desejados em contato com o organismo, que já se mostra adaptado às quantidades habituais.

·    Abstinência: manifestação de sintomas fisiológicos e cognitivos desconfortáveis resultantes da interrupção da administração da droga.

O que leva o usuário à dependência química?

 

A dependência química, no meu entendimento, precisa ser vista como uma doença biopsicossocial.

 

Ou seja, são os aspectos biológicos, psicológicos e sociais que levam um indivíduo a esse tipo de quadro.

 

Os seres humanos, naturalmente, procuram situações que lhes proporcionem prazer e aceitação social.

 

Dessa forma, qualquer atitude que revisite essas sensações tem uma forte tendência de ser repetida.

 

Na psicologia e na psiquiatria, chamamos tal movimento de recompensa, e esse é um dos motivos que ajudam a explicar a dependência.

 

Os indivíduos vão atrás de sentimentos positivos, ainda que fugazes, sem medir as consequências do perigo ao qual estão se submetendo.

 

Quais são os principais fatores de risco?

 

Os fatores de risco da dependência química podem ser divididos em três grandes grupos: biológicos, psicológicos e sociais.

 

Biológicos

 

Quando você consome uma substância, o sistema nervoso central é afetado diretamente.

 

Afinal, ele é o principal responsável pela liberação da dopamina, neurotransmissor que gera as nossas sensações de prazer e que é estimulado no uso da droga.

 

Esse processo também ocorre de maneira natural.

 

Ou seja, produzimos o hormônio do bem-estar quando realizamos atividades que nos completam.

 

No entanto, ao fazer uso recorrente de entorpecentes, é como se enviássemos uma mensagem para o nosso cérebro dizendo que o único modo de termos acessa a sentimentos positivos é por meio das drogas.

 

Isso compromete o chamado sistema cerebral de recompensas, que passará a não produzir mais os neurotransmissores de forma natural.

 

Além disso, há um prejuízo funcional do lóbulo frontal, responsável pela mediação de comportamentos e vontades.

 

Em outras palavras, o indivíduo passa a ser impulsivo, desejando mais e mais a substância em questão, a fim de revisitar sensações de prazer.

 

Acontece que, agora, a produção de dopamina está comprometida e, para sentir bem-estar, é necessário consumir doses cada vez mais elevadas e, ainda sim, a duração do feito será menor.

 

Psicológicos

 

A falsa noção de que a droga é a razão para o bem-estar acaba fazendo com que os indivíduos, de maneira equivocada, façam uso de substâncias nocivas para aliviar preocupações emocionais.

 

Administrados como muletas, os psicoativos representam uma fuga da realidade.

 

Sendo assim, sempre que o adicto se deparar com uma situação desconfortável, vai recorrer a esse artifício.

 

A dependência química, nesse caso, vai se instalando de forma progressiva como um antídoto psicológico contra o medo, as frustrações e a ansiedade, por exemplo.

 

Sociais

 

Por último, mas não menos importante, temos o aspecto social.

 

Hoje em dia, mesmo que a legislação promova graves sanções a quem incentiva o consumo ou venda de substâncias lícitas e álcool para menores de idade, por exemplo, o acesso a eles ainda é muito fácil.

 

Inclusive, até as drogas ilícitas são acessíveis.

 

É só observar uma festa rave para atestar isso – a administração de substâncias sintéticas é quase um “kit balada” obrigatório.

 

Somadas a esses fatores, temos a carência de um suporte social adequado, a falta de políticas públicas em ações educacionais e preventivas, a necessidade de aceitação em determinados grupos, a sensação de libertação, contravenção e a fuga das responsabilidades.

 

Quais são os tipos de dependência química?

 

Os tipos de dependência química são classificados conforme a droga administrada.

 

Elas podem ser medicamentos (como ansiolíticos e anticolinérgicos), repositores hormonais (como os esteroides e anabolizantes), substâncias lícitas (como tabaco e álcool) e ilícitas de natureza estimulante (cocaína, crack e anfetaminas), opioide (heroína) e alucinógena (como MD, LSD e ecstasy).

Cada tipo de dependência tem os seus sintomas, características e especificidades.

 

Quais são os sintomas de um dependente químico?

 

Os sintomas apresentados por um dependente químico durante uma crise de abstinência variam conforme uma série de aspectos.

 

Eles incluem tipo de substância ingerida, dosagem, tolerância do organismo, via de administração e mistura de drogas diferentes, entre outros.

 

Ainda assim, listei algumas das ocorrências mais comuns, independentemente da modalidade do entorpecente consumido:

·    Descuido com a aparência e com cuidados pessoais e higiênicos básicos

·    Mudanças comportamentais severas, podendo variar de atitudes mais agressivas e irritabilidade até momentos mais depressivos.

·    Isolamento social

·    Abandono da sua rotina pessoal e profissional e total descaso com suas responsabilidades

·    Problemas financeiros

·    Manifestação fisiológica, como náusea, vômito, insônia, falta de apetite, fadiga, entre outras (dependendo do tipo de droga consumida).

 

Quais são as doenças causadas pela dependência química?

 

Mais do que sintomas, a dependência química pode servir como uma potencializadora de outras doenças graves.

 

Um exemplo é quando age como vetor do HIV e da hepatite C no compartilhamento de seringas em drogas injetáveis.

 

Substâncias que são fumadas, como tabaco e maconha, podem desencadear problemas respiratórios graves, tais quais enfisemas e neoplasias de boca, faringe, laringe e pulmões.

 

Outros problemas também estão relacionados direta e indiretamente ao consumo frequente e abusivo de substâncias nocivas.

 

Nesse caso, posso citar: insuficiência renal e hepática, cirrose, comprometimento cerebral (como os AVCs), transtornos comportamentais (depressão, esquizofrenia, síndrome do pânico), complicações no coração (endocardite infecciosa) e desnutrição.

 

Afinal, dependência química tem cura?

 

Conforme falei, a dependência química é uma condição sem cura.

No entanto, isso não significa dizer que ela não seja perfeitamente tratável e que o indivíduo não possa retomar a sua qualidade de vida com uma supervisão adequada.

 

Hoje em dia, existem diversas maneiras de tratar essa doença séria, e é exatamente sobre isso que vou falar com mais detalhes a partir de agora.

 

Como a dependência química pode ser tratada?

 

Acredito e defendo que a dependência química deve ser tratada com toda a seriedade que merece.

 

Por ser um problema multifatorial, que tem a influência de diferentes aspectos, entendo que cada caso exige uma abordagem específica, que respeite as individualidades dos pacientes.

 

Afinal, toda pessoa tem a sua própria trajetória, que não deve ser desconsiderada na adoção do tratamento ideal.

 

Qual é o melhor tratamento para a dependência química?

 

Dito isso, ainda confio que a internação seja o melhor caminho – preferencialmente voluntária, mas se não for possível, os outros tipos também devem ser considerados.

 

Eu sei o quanto esse assunto pode ser delicado e entendo os receios que ele traz consigo.

 

Mas pensando nisso, nós, do Grupo APS, montamos uma metodologia de tratamento que visa, justamente, oferecer todo o suporte que o interno e seus familiares precisam e buscam.

 

Nossa abordagem se baseia em um tripé formado pelas seguintes abordagens: Aconselhamento Biopsicossocial, Terapia Racional Emotiva (TRE) e Programa dos 12 Passos.

 

Conheça, a seguir, cada uma dessas etapas.

 

Aconselhamento Biopsicossocial

 

Mais ao início do texto apontei os três principais fatores de risco da dependência química, que são os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

 

Essa é uma abordagem moderna, que desmistifica aquela falsa ideia de que todo adicto usa drogas porque quer ou porque não tem caráter.

 

No aconselhamento biopsicossocial, buscamos entender a realidade de cada paciente, revisitar o seu passado e, de forma individualizada e humana, compreender o seu quadro.

 

O objetivo é, além de encontrar a melhor maneira de tratar o interno, despertar nele uma consciência sobre a sua doença.

 

Ao trabalhar conceitos como responsabilidade e autopreservação, por exemplo, conseguimos que ele vislumbre sua impotência perante o vício.

 

Terapia Racional Emotiva (TRE)

 

A segunda etapa é um processo evolutivo da primeira fase.

Com a TRE, depois de despertada a consciência sobre a doença, a ideia é que o indivíduo consiga problematizar alguns comportamentos, atitudes e crenças erradas limitantes que o vício fez com que ele desenvolvesse.

 

O método tradicional já é implementado desde a década de 1950 e tem sua eficácia científica comprovada.

 

O seu sucesso está baseado na relação de confiança estabelecida entre paciente e equipe multidisciplinar, para que essa mudança de mentalidade seja algo natural, e não forçado.

 

Assim, aos poucos, o interno vai se convencendo de que é possível mudar e que muitos dos seus posicionamentos passados não só o prejudicaram como também afetaram as pessoas ao seu redor.

 

Programa dos 12 Passos

 

Ainda que cada paciente tenha o seu próprio caminho e histórico pessoal com o vício, ele não é o único nessa situação.

 

Muitas outras pessoas passaram e continuam passando por esse mesmo problema.

 

O Programa dos 12 Passos é a última fase do nosso tripé de tratamento e também um espaço para compartilhar experiências.

 

Adotado em grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), o programa é sobre a luta contínua pela sobriedade.

 

Consiste em reconhecer sua impotência perante o vício, buscar abrigo da espiritualidade e reprogramar o seu sistema de crenças e valores.

 

Perguntas frequentes sobre dependência química

 

Mesmo depois de ver diversos aspectos da dependência química, é possível que você tenha chegado até aqui com dúvidas.

 

Por isso, neste final, resolvi reunir cinco dos questionamentos que mais escuto em relação do tema e respondê-los de forma direta e didática. 

Confira!

 

Quando o uso de drogas vira doença?

 

O uso recreativo de drogas se transforma em dependência química quando o indivíduo perde o controle sobre o seu consumo e isso começa a trazer prejuízos fisiológicos, cognitivos e comportamentais.

 

Muitas vezes, mesmo ciente do seu vício, ele tenta parar ou diminuir a administração da substância e não consegue.

 

Quanto tempo leva para uma pessoa se tornar um dependente químico?

 

A resposta para essa pergunta depende de uma série de fatores, como o tipo de droga usada, a faixa etária em que o consumo começou predisposição genética e tolerância do organismo, entre outros.

 

No entanto, há estudos que mostram que drogas como o crack e a heroína podem causar dependência já nos primeiros usos.

 

Como é feito o diagnóstico de um dependente químico?

 

Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, livro de autoria da Associação Americana de Psiquiatria, o diagnóstico da dependência química obedece a uma diretriz clara.

 

Ele se dá quando o indivíduo apresenta quadros de abstinência, elevado grau de tolerância à droga, incapacidade de interromper o uso, entre quatro outros critérios, de forma simultânea, a qualquer momento no período de um ano.

 

Quanto tempo dura o tratamento de dependentes químicos?

 

A metodologia de tratamento aplicada aqui na APS  prevê uma duração de  (1) um ano.

 

Acreditamos que esse seja o tempo necessário para que o interno retome não só a sobriedade, mas também reprograme sua vida a partir de novos valores e responsabilidades.

 

A dependência química pode deixar sequelas?

 

Sem dúvidas que sim.

 

A dependência química pode deixar diversas sequelas de caráter fisiológico, cognitivo e comportamental.

 

Entre as mais comuns, está o comprometimento do sistema de recompensas cerebral, prejudicando a produção de neurotransmissores como a dopamina.



Por: Fabrício Selbmann & APS